“POLÍTICOS, JUDICIÁRIO, MILITARES, E A SOCIEDADE DEVERIAM REPRESENTAR JUNTOS, SE UM FALTAR AO DEBATE, TUDO, POSSIVELMENTE, ESTARÁ PERDIDO“
CHARLES DE GAULLE
Por Carlos Alberto Pinto Silva¹
1.GENERALIDADES
1.1 PERCALÇOS DA HISTÓRIA
“A história nos mostra a imprevidência, a falta de confiança e o “descaso” do Império para com o Exército após a Independência do Brasil, em 1822, quando essa força terrestre passou a ser considerada pelas autoridades imperiais como uma ameaça à estabilidade política do novo sistema de governo.
“No início da Guerra do Paraguai, o nosso pequeno e mal aparelhado Exército deixava muito, senão tudo, a desejar, desde a instrução técnica e o preparo indispensável para a guerra até o comissariado de víveres e forragens, o serviço sanitário, o aprovisionamento de armas, fardamento, equipamento, meios de transporte etc.[2]”
1.2 OUTRA FACE DA HISTÓRIA
Na era da informação, quando o conhecimento chega a ser o recurso econômico crucial, as redes convencionais e os meios de comunicação eletrônica se convertem na infraestrutura crítica, aqueles que dominam o conhecimento e a infraestrutura crítica se apoderam de um grande poder político.
Em nenhum momento ficou tão evidente como durante as eleições americanas de 1992, quando uma só cadeia de televisão, a CNN, desempenhou papel decisivo na derrota do presidente George Bush. Apenas um ano antes, a mesma CNN, com sua ampla cobertura da Guerra do Golfo, havia contribuído a elevar de maneira extraordinária a popularidade do presidente.
Os novos meios de comunicação fazem algo mais que alterar os resultados eleitorais. Ao concentrar as câmeras primeiro em uma crise e quase a noite e logo na outra manhã em outra, os meios determinam cada vez mais a agenda e obrigam aos políticos a abordar uma corrente constante de crises e controvérsias,” [3] como ocorreu no Brasil nas eleições de 2022, onde o processo de apoio eleitoral a um candidato, que tinha sido desmoralizado anteriormente pelas mesmas câmeras, teve início desde 2019 com a desconstrução diária do presidente em exercício e principal candidato no pleito de 2022.
2. DISPUTA POLÍTICA.
2.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES DE CHALES DE GAULLE NO LIVRO “FIO DA ESPADA”
Em determinado momento em que tem início uma peça na qual políticos, judiciário, militares, e a sociedade deveriam representar juntos, se um faltar ao debate, tudo, possivelmente, estará perdido.
Por mais diferentes que sejam as tarefas e as atribuições desses atores, a sua interdependência deveria ser considerada.
O homem público e o militar trazem para o empreendimento comum, características, procedimentos, cuidados e responsabilidades muito diferentes. Enquanto aquele atinge o objetivo por compromissos e decisões; este o faz por ações diretas.
Qualquer satisfação de ordem lógica, que se encontrar inscrito em um regulamento detalhado das relações entre o governo e o comando para o tempo de crise, é prudente repensá-la.
A ação se desenvolve em meio às circunstâncias. Após haver prestado aos princípios da reverência que convém, deve-se deixar esses homens retirarem de dentro de si a conduta a manter em cada caso particular.
2.2 IDEIAS DE ALVIN Y HEIDE TOFFLER NO LIVRO “LAS GUERRAS DEL FUTURO” – LA SUPERVIVENCIA EM EL ALBA DEL SIGLO XXI
Com o aumento da influência dos meios de comunicação tradicional e “internet”, a antiga contenda bilateral pelo poder se converteu em uma luta de três grupos em que participam, constituindo combinações instáveis, parlamentares, burocratas e os que dirigem os meios de comunicação.
Como a luta pelo poder se leva entre políticos eleitos, burocratas nomeados e representantes dos meios de comunicação, os chefes militares dos Estados democráticos, que não são nem eleitos, nem nomeados, se verão amarrados com um triplo laço.
Pode ser que perigue o princípio democrático de controle civil dos militares, como é possível que as ameaças e as crises militares se materializem com maior rapidez que os estratagemas do consenso.
Cabe, ainda, a possibilidade de que os militares quedem paralisados quando se requeira a sua intervenção. Ou talvez, ao inverso, se precipitem em uma guerra sem apoio democrático.
3. O MOMENTO ATUAL EXIGE QUE TODOS ESSES ATORES SEJAM “RELEVANTES”
Isto é, capazes de criar, comunicar e difundir ideias e valores. Valores são vínculos que despertam nas pessoas um senso de orgulho de ser brasileiro, de pertencer a um grupo, de ter uma família, de filosofia de vida, de padrão de caminhos a seguir.
Exige, ainda, que se organizem e planejem para participar da disputa política, na defesa do que acreditam ser melhor para a sociedade e o país.
O principal problema da SOCIEDADE, é que no momento faltam pessoas capazes de orientá-la e guiá-la (Pessoas pensantes – Lideranças), que apresentem ideias que possam levar o país ao desenvolvimento econômico e social desejado.,
Pessoas unidas e pensando de forma criativa podem realizar o impossível. A união gera a força, tanto entre os integrantes de uma mesma causa, como no propósito da própria causa. Essas pessoas arrastarão outras.
Na disputa política qualquer tentativa que não esteja alinhada à construção de um significado será perdida. Para isso há necessidade de planejamento.
A ideia para a luta política em defesa do desenvolvimento e da justiça social deve ser racional, isto é, baseada numa avaliação de custos e benefício para o Estado e a sociedade. A seguir ser instrumental, ser empreendida com vista a alcançar-se um objetivo, e nunca por si própria. Por último nacional, para que seu objetivo seja a satisfação dos interesses do Estado, de modo que se justifique que todo o esforço de uma nação seja mobilizado a serviço do objetivo a ser atingido.
4. MAIS DO QUE REPETIR, ESTAMOS IGNORANDO A HISTÓRIA
É necessário olhar para o futuro. É preciso que políticos, burocracia, militares e a sociedade, busquem o entendimento necessário, principalmente quando interesses nacionais estão em jogo. Afinal, assim entendemos, pertencemos a um conjunto único e queremos o melhor para o Brasil.
O que estão fazendo, com uma guerra de críticas e ofensas as Instituições, principalmente às “Forças Armadas”, podem criar a desunião e enfraquecer o moral da “Nação Brasileira”.
A atual situação de demonizar as Forças Armadas é a mais crítica, perigosa, e indesejada para o nosso país, no campo interno ou externo, no atual momento.
5. UMA BREVE CONCLUSÃO.
A luta pelo poder é política; as Forças Armadas são só um dos muitos instrumentos para alcançar objetivos políticos; e o cérebro humano é o campo de batalha final.
A reação política, para se ter um país realmente democrático, tem que começar em algum lugar e de alguma forma, não pode ficar apenas no previsível, se formos manteremos a rotina de sempre, e jamais daremos o grande salto que o Brasil precisa.
[1] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.
[2] CERQUEIRA, 1980, p. 63.
[3] Alvin y Heide Toffler no livro “Las Guerras Del Futuro” – La supervivencia em el alba del siglo XXI. Nota no Brasil foi publicado com o título original da edição em inglês: “Guerra e Anti-Guerra – A sobrevivência na Aurora do Terceiro Milênio“, Editora Record 1994