Por Carlos Alberto Pinto Silva ¹
1. GENERALIDADES
Um dos efeitos da introdução de uma nova forma bélica (Guerra) é a profunda alteração dos equilíbrios militares existentes.
A combinação de uma força militar que empregava o conhecimento intensivo, respaldada por uma economia da era da informação, marcou a diferença, favorável aos Estados Unidos, que levou, em definitivo, o colapso do comunismo.
Aparição da forma bélica da era da informação obriga todos os governos a reconsiderar seu potencial militar conforme as ameaças que se apresentam, já que a resposta dependerá das próprias ações do governo e ele, necessariamente, deve reconhecer que para se obter uma vantagem militar, há de se obter e conservar uma vantagem econômica
O grande entrave, do Brasil, é uma perigosa falta de clareza acerca dos interesses e objetivos a serem alcançados pelo país a médio longo prazo.
Por adição, os baixos orçamentos aprovados pelo governo e parlamento, que cortam os planejamentos militares, sem considerar as novas necessidades, por não entender grande coisa da forma bélica da era da informação.
Devemos considerar ainda que, em um mundo lógico, não é possível saber qual a magnitude que necessita o orçamento militar de um país, até dispor de uma estratégia e o respectivo planejamento para alcançar os objetivos de médio e longo prazo previsto, e o levantamento das necessidades para serem atingidos.
Em consequência, os argumentos habituais sobre o volume do orçamento de defesa constituem, essencialmente, munição para discussões políticas e especulações tendenciosas de parte da mídia, que autênticos debates sobre a estratégia e o levantamento de necessidades para alcançar objetivos nacionais.
2. PAPEL DAS FORÇAS ARMADAS
A contribuição das Forças Armadas ao processo de desenvolvimento do Poder Nacional, deve manifestar-se mais pelo aspecto qualitativo do que quantitativo, trazendo potencialidades militares maiores, simultaneamente, à evolução constante do ambiente Internacional que já coloca o Brasil como um importante ator, o que, a ele, acarreta atritos, com tendência ao agravamento, à medida que a nação cresce e se desenvolve economicamente.
À estratégia militar falta uma definição clara dos objetivos a serem alcançados, e que possam definir o Perfil Estratégico do Brasil, e, com isso, propiciando melhor orientação às políticas do preparo do emprego das Forças Armadas.
Há necessidade de objetivos perfeitamente definidos, responsabilidades políticas firmemente estabelecidas e uma nova metodologia, que nos forneça indicativos do que deva ser o Perfil Estratégico do Brasil, tudo isso considerando a capacidade nacional de aprestamento e mobilização, as reais possibilidades e probabilidades do emprego violento da expressão militar e a possível reação do oponente.
3. DEFESA DE NOSSA SOBERANIA
Para a defesa do nosso território não devemos perguntar quanto custa à Nação a resistência que toda a comunidade pode oferecer, mas indagar qual é o efeito que essa resistência poderá ter? Quais são as circunstâncias e de que forma pode ser utilizada?
Se o próprio povo não estiver preparado para, se necessário, tomar parte na defesa do seu país, não poderá a longo prazo ser protegido.
Um estado forte precisa de Forças Armadas fortes, ou melhor, só se fortalece por possuí-las. A dimensão das Forças Armadas deve estar coerente com a grandeza do Estado e com os objetivos nacionais a serem atingidos.
4. UMA BREVE CONCLUSÃO
O enfraquecimento do poder militar representa um risco indesejável, que deve ser afastado no mais curto prazo possível.
No Brasil real, sem os recursos militares (orçamentos, efetivos, material de emprego militar, logística etc.) necessários para que suas Forças Armadas possam cumprir sua missão constitucional, não existe Estratégia Nacional de Defesa.
Manter uma Força Armada transformada e preparada, como o nosso País requer e nossa sociedade deseja, deve ser o compromisso moral dos nossos Governantes e Chefes Militares.
[1] Carlos Alberto Pinto Silva / General de Exército da reserva / Ex-comandante do Comando Militar do Oeste, do Comando Militar do Sul, do Comando de Operações Terrestres, Ex-comandante do 2º BIS e da 17ª Bda Inf Sl, Chefe do EM do CMA, Membro da Academia de Defesa e do CEBRES.